Blog da Laura Peruchi – Tudo sobre Nova York
lifestyle

Sou imigrante nos EUA: o que eu não sabia sobre meu novo título

“Tenho certeza que vai ser uma experiência maravilhosa pra nós”. Foi isso que eu escrevi para o Thiago quando estávamos perto de termos a confirmação de que iríamos nos mudar para Nova York. Quando tudo estava certo, um mix de sentimentos tomou conta de mim: a ansiedade pela mudança, a empolgação pela nova vida e pelas novas descobertas, a vontade de fazer muitas coisas, o medo do desconhecido. Eu tinha fome pelo novo – mas eu nem imaginava o que o futuro me reservava. Hoje, sete anos depois dessa mudança, eu posso confirmar a mensagem que eu escrevi para o Thiago – foi e tem sido uma experiência maravilhosa. Mas eu não sabia nada sobre ser uma imigrante nos Estados Unidos – e acho que nada que eu pudesse ter feito poderia ter me preparado para esse novo título.

Sim, eu tentei me preparar para uma vida nova, mas àquela altura eu não imaginava o significado de começar do zero. Dá até para fazer uma analogia com a vida de um bebê, que é um ser que precisa literalmente aprender tudo. Como imigrante, você precisa reaprender tudo – a diferença é que você é um adulto. De alguma forma, você precisa aprender a falar – só que a falar um novo idioma ou pelo menos a se habituar com ele. Você precisa aprender a andar pela cidade, a entender o sistema, o clima e até mesmo as prateleiras dos supermercados. Você tem que descobrir as pessoas, conquistar as pessoas. E, no meio disso tudo, você tem que se reinventar. E descobrir quem é você nesse lugar. Já disse Eistein que “a mente que se abre a uma nova idéia jamais volta ao seu tamanho original”. Fazendo uma analogia à vida do imigrante, eu acredito aquele que sai do seu país jamais será o mesmo. E se encontrar no meio desse turbilhão de coisas novas, entre o seu passado, o seu presente e o futuro que está por vir pode – e eu diria que vai – te balançar muito. 

Eu não sabia muitas coisas sobre esse tão falado título de imigrante. Apesar de eu ter a oportunidade de me tornar uma cidadã americana um dia,- isso não vai anular o meu passado, nem o título de imigrante, nem o de brasileira. Eu encontrei em Nova York um lugar para preencher o posto de lar na minha vida e várias coisas na cidade me fazem sentir pertencente. Talvez seja o fato de eu saber que existem milhões de pessoas aqui como eu. É como se todos nós vivêssemos num país paralelo, cosmopolita e que deu um novo sentido à minha vida. Mas ser imigrante é ser diferente, de alguma forma. Não é ser melhor, nem pior, apenas diferente. Eu não sinto a emoção que eles sentem quando toca o hino nacional. Eu também não conheço todas as músicas natalinas que eles escutavam quando eram crianças. Não tenho referências ou memória afetiva de algumas comidas. Eu pego uma fila diferente para entrar nesse país por muitas vezes. E sou lembrada várias vezes pelo sistema de imigração das minhas limitações que não me faziam uma totalmente igual aos outros que aqui moram em termos de direito. Também tenho sotaque ao falar inglês e aprendo novas palavras todos os dias. Minha família não está no mesmo país que eu. Ainda torço para o Brasil na Copa do Mundo ou em qualquer competição esportiva. Por outro lado, eu também aprendi a ser grata e esperar para celebrar o Thanksgiving como espero o Natal. A valorizar cada conquista. A escolher melhor como e com quem eu invisto meu tempo. Aprendi a apreciar cada estação do ano e cada minutinho de sol. Também criei lembranças: vi a neve pela primeira vez, casei de novo com a mesma pessoa, fui reconhecida na rua, experimentei ostra, caviar e outras comidas que nunca imaginei pela primeira vez, vi artistas que a Laura adolescente nunca sonhou em ver, escrevi livros, fiquei loira, aprendi a fazer pão, pizza e massa, montei móveis, fiz amizades incríveis, chorei no metrô, vi o sol se pôr de lugares incríveis por diversas vezes.  Aprendi, nessa cidade, a ter consciência dos meus privilégios, a entender diferenças, a respeitar as histórias diferentes das minhas. 

É, acho que eu estou escrevendo uma história. Talvez algumas circunstâncias nunca mudem e sempre me lembrarão quem eu sou. Mas quem disse que apagar o passado seria necessário para viver aqui? É, definitivamente, eu não sabia nada sobre esse título de imigrante. 

 


Leave a Response