Blog da Laura Peruchi – Tudo sobre Nova York
NYC

Sobre fins e recomeços

“É como se eu estivesse atravessando um rio através das pedras expostas. Um dos meus pés já está alinhado na pedra em frente, mas o de trás está apoiado em outra pedra, e não sei se me sinto segura o suficiente para dar o passo em frente”.

Por muito tempo, utilizei essa metáfora durante as minhas sessões de terapia, para me referir ao meu trabalho. Hoje, eu trouxe ela à tona outra vez, mas para dizer que já estava sentindo firmeza em continuar a travessia. “Agora você enxerga o horizonte”, a psicóloga me respondeu.

Pois é… é com essa metáfora talvez clichê que eu começo esse texto para abrir meu coração com vocês. Para compartilhar um pouco do que eu venho passando do lado de cá e por ter muito carinho e respeito pela audiência que eu construí durante esses mais de dez anos criando conteúdo sobre Nova York. Mas, talvez, a principal razão que me faça escrever seja a possibilidade do meu desabafo inspirar você que, quem sabe, está passando por algo assim. Tá tudo bem. Você não está sozinho.

Durante os meus, sei lá, 20 anos trabalhando, eu já passei por algumas “transições” de carreira – ou momentos em que tive que tomar uma decisão que, naquele momento, não foi das mais simples. Começou aos 18-19 anos, quando fui morar em outra cidade para fazer faculdade e deixei de revender Avon, algo que trazia meu próprio dinheirinho e que me ajudou a alimentar minha paixão por beleza, e me ensinou a importância da independência financeira. Daí, teve a vez em que eu deixei o trabalho de vendedora de loja, que fazia durante o dia enquanto estudava à noite, para me dedicar a um projeto de pesquisa científica – que me pagava menos, mas me colocava em contato maior com a carreira de jornalismo. Depois, já formada e trabalhando na área, quando deixei meu trabalho de carteira assinada para apostar na carreira de autônoma, indo atrás dos meus clientes de assessoria de imprensa e redes sociais – quando essas estavam apenas engatinhando. Mais tarde, em 2014, houve a mudança para Nova York, e eu investi em criação de conteúdo enquanto mantinha o trabalho remoto. Durou quase um ano, mas chegou uma hora em que tive que “demitir” os clientes para me dedicar ao que me fazia mais feliz: a criação de conteúdo. Nesse mesmo momento, também fiz uma mudança editorial na minha plataforma e decidi focar totalmente no nicho Nova York. Teve mudança de marca e muito, mas muito conteúdo no blog e no meu então canal do Youtube. Não me arrependo de nenhum dos passos que dei. Foram decisões tomadas com medo – mas sempre com um lado pendendo mais pro outro. Eu lembro da sensação que eu tive em cada uma dessas transições. Até porque é a mesma sensação que eu venho sentindo há um tempo…

Todos os meus empregos, trabalhos e projetos me ensinaram alguma coisa – mas talvez a experiência de construir uma plataforma de conteúdo em português sobre uma das cidades mais importantes do mundo tenha sido a mais desafiadora, transformadora, dolorosa e, por que não, satisfatória de todas. Talvez porque trabalhar com internet é lidar com todo tipo de pessoa – na rede ou fora dela. Gente querida, gente que troca com você, gente que reconhece, gente que te ensina – mas também gente sem noção, gente que ignora que você é um ser humano, gente que te copia, gente que te difama, gente que puxa o seu tapete. Calma, calma. Este não é um texto para reclamar de ninguém. As feridas abertas foram devidamente cicatrizadas e trouxeram muita maturidade- com o custo, claro, de muitas lágrimas derramadas e muito rebolado para lidar com todo tipo de situação. E vários aprendizados, dentre eles o de que a opinião de um estranho sobre você não define quem você é.

Eu sempre tive metas para o canal e para o blog. Eu queria chegar longe. E eu queria ganhar dinheiro, óbvio. Quem fala que não quer talvez tenha tudo garantido e que ótimo. Para mim, a independência financeira sempre foi importante. E, logo eu, que tanto priorizei isso, logo me vi num lugar limitante, com um visto que só me permitia existir nesse país. Monetizar? Ganhar dinheiro? Não, você é esposa de alguém com visto de trabalho, o seu visto não te dá esse direito. Senta aí e fica quietinha.

Não foi exatamente o que eu fiz durante esse tempo – continuei criando e investindo meu tempo na minha paixão: Nova York. Descobrir novos lugares e falar sobre eles, ajudar os turistas a terem sua melhor experiência na cidade, democratizar o acesso à informação. Tenho muito orgulho de tudo que criei. Mas, novamente: o dinheiro também era importante. E enquanto outros criadores foram surgindo e o tempo foi passando, eu acho que a minha “bateria” foi acabando. Acho que muita gente nem imagina, mas passei anos sem ganhar um centavo com o meu trabalho – ou ganhando muito pouco, quando era possível. Quando eu recebi o meu Green Card um peso saiu das minhas costas e, finalmente, o caminho para a monetização estava aberto para mim. Mas, eu já não era mais a mesma pessoa de antes. Incômodos cresceram e descobertas foram feitas – e digamos que a pandemia só acelerou esse processo, exigindo que eu lidasse com os meus dilemas.

Entendo que, para muitos brasileiros, em muitos lugares do mundo, esse negócio de criar conteúdo venha diretamente atrelado a oferecer serviços – como passeios, roteiros, ensaios fotográficos e serviços personalizados. E admiro demais meus colegas neste nicho. Mas uma coisa que a maioria deles têm em comum é a paixão. E a minha paixão não é, necessariamente, o turismo. Nunca foi. É a comunicação. Foi cobrindo tours para algumas colegas e até tocando alguns projetos nesse ramo que eu entendi que não era a minha praia. Não é porque todo mundo faz que eu tenho que fazer. Afinal, como dizem nossas mães: “você não é todo mundo”.

E, desde então, eu tenho tentado me reinventar. Veio o podcast, para me ajudar a exteriorizar pro mundo tudo que eu queria falar sobre morar fora e, logo em seguida, vieram as histórias de brasileiros pelo mundo – mais de 100, pra ser mais exata. E eu nunca escondi que ajudar as pessoas com dicas de viagem sempre foi muito legal – mas a satisfação que eu sentia quando recebia mensagens sobre as histórias do podcast era diferente. Ontem mesmo recebi uma mensagem de uma moça que se viu em uma das histórias da série sobre relacionamento abusivo que eu fiz ano passado. Como me fez feliz poder tê-la ajudado de alguma forma.

Além do podcast, eu até me aventurei em entrevistas de emprego em 2021 – algo que me colocou em contato com o Departamento de Turismo de Nova York e me deu uma oportunidade que eu jamais vou esquecer. Um projeto entrevistando pessoas ao redor dos cinco distritos para mostrar ao mundo que Nova York, ao contrário do que se falava na época, estava viva. Eu, uma brasileira, do interior de Santa Catarina, falando inglês com sotaque, trabalhando com o Departamento de Turismo de Nova York! Aquilo me deu confiança para acreditar em mim e que eu podia mais.

Comecei novos projetos – como um blog todinho em inglês e uma newsletter semanal pra falar de NYC – mas também de outras coisas, porque, afinal, eu tenho vários interesses – e um Instagram bilingue, porque sim, eu também queria atingir outros públicos. E assim fui seguindo:

Dois blogs, duas newsletters, um Instagram, um podcast, um grupo no Facebook.
Um marido, uma casa, um cachorro, vida social.
Uma internet se reinventando.
A ascensão do Tik Tok.
A mudança eterna dos algoritmos.
6483947937 criadores de conteúdo na cidade falando sobre a mesma coisa, correndo para postar a última novidade, quem vai fazer o vídeo mais rápido.
“A fulana viralizou. A ciclana bateu 100 mil. Viu o vídeo daquela menina?”

No final do ano passado, após ir conferir a inauguração das luzes de Natal na Saks – para entrar no jogo insano de postar, postar, postar – corri com a minha amiga para o lobby de um hotel para editar o vídeo. Uma esperança de ter um conteúdo entregue num perfil no Instagram cujo número não muda desde abril de 2023. Depois de cometer um erro na legenda e me frustrar, caí no choro. Minha amiga me abraçou.

“Eu não aguento mais”. E eu não aguentava mesmo. Estava no meu limite. Não sabia nem porque eu tinha saído de casa naquela noite para caçar conteúdo. Aquilo não me trazia prazer. Só uma sensação de ansiedade e angústia.

“Laura, não se compare com os outros. Cada um está vivendo suas batalhas. E você não precisa fazer o que os outros estão fazendo”.

Respirei fundo. Aquele episódio foi apenas um dos vários que tive nos meses anteriores e nas semanas seguintes. Eu não tive um diagnóstico, mas desconfio que tive um burnout – ou, se não foi isso, cheguei muito perto. Fiquei sem postar. Fui e sigo sendo penalizada pelo temido algoritmo. Procurei muitas respostas… e eu sempre dizia para mim mesma: eu vou sair dessa, vou confiar no processo. E, mesmo confiando, PQP como dói. Mas, respeitando meu tempo – com o privilégio que eu sei que eu tenho de poder fazer isso – eu fui encontrando respostas. Não só o meu Instagram estava estagnado, mas eu também estava. Eu não me sentia confortável, não me sentia eu mesma. Sentia que muitas das coisas que eu fazia eu estava sendo “forçada”.

E eu acho que, depois de todo esse tempo, de todo esse processo de incômodo que, de certa forma, começou lá em 2020, eu cheguei num veredicto: a era do conteúdo turístico de Nova York acabou. E a era de equilibrar mil pratos também. Até porque, eu acho que só agora, depois de tudo que eu passei, eu consigo ter um pouco mais de noção de que o volume de trabalho que eu me propunha a fazer era insano. Minha irmã me disse: “eu acho que tu não tens ideia da quantidade de coisas que tu faz”. Não. Sempre achei que fazia pouco. E, pra relembrar, com exceção de um período curto de pouco mais de um ano, nunca tive ajuda pra nada.

Ao mesmo tempo em que eu me dava conta de que falar de Nova York como eu falava antes não fazia mais sentido pra mim, eu fui me dando conta de que eu tinha mudado. Mudei. Amadureci. Meus interesses mudaram. Afinal de contas, pode não parecer, mas já são dez anos nessa cidade. Se cheguei aqui perto dos 30, hoje já estou mais perto dos 40. Voltei a fazer coisas que eu sempre amei, como estudar, ler um livro, cuidar mais da minha saúde… coisas que eu não fazia por achar que tinha que respirar trabalho 24/7. O que não mudou foi a paixão pela comunicação. Comunicar é o que eu amo fazer e o que quero seguir fazendo – agora de outra maneira.

O que isso significa, na prática?

  • Esse blog seguirá no ar – até porque tem muita informação valiosa aqui e eu tenho muito orgulho de tudo que está nestes arquivos. Mas, ele não terá compromisso com conteúdos novos. O meu grupo no Facebook seguirá ativo – porque é uma comunidade onde os membros se ajudam e não seria justo tirar esse espaço do ar.
  • Você vai poder continuar me acompanhando no Instagram @laura_peruchi – um lugar onde vou criar conteúdo exclusivamente em inglês, pra falar de coisas que eu, de certa forma, até já falava, mas não me sentia 100% confortável, porque sei que a maioria da galera que está lá chegou por outro motivo. Espere muitas dicas relacionadas à moda, beleza, lifestyle, dicas insiders de NYC, dicas de compra. Quando eu paro pra pensar a respeito, o conteúdo que eu tenho mais vontade de fazer é o conteúdo que a minha comunidade mais engaja comigo, é onde rola mais troca, sabe?
  • Você também pode acompanhar meu site – em inglês, para conteúdos relacionados ao mesmo tema, mas com mais profundidade – porque nem sempre dá pra falar tudo em 50 segundos no Instagram.
  • Se quiser, pode também assinar minha Substack, The Tiny Apple em inglês, onde vou compartilhar dicas mais pessoais de NYC – – e histórias, reflexões e uma vibe mais “blog” mesmo, mais íntimo e pessoal.
  • Meu podcast continuará em standby. Não considero como um projeto que acabou – parte de mim ainda pensa nele, mas ele precisa ser viabilizado de forma que faça sentido pra mim. Se isso vai rolar… não sei.

Sim, nessa minha nova fase eu resolvi me dedicar ao conteúdo em inglês. Não é humanamente possível continuar me dedicando a tanta coisa sem enlouquecer. E eu não quero ver o tempo passar enquanto eu continuo com a vozinha na minha cabeça que tem me dito pra fazer isso por tanto tempo. Se você quiser embarcar nessa comigo, mara, se não, eu super entendo, vida que segue. Não vai dar pra agradar todo mundo e é super normal.

Pode dar errado? ÓBVIO. Mas dou esse passo com a certeza de que o que estou deixando pra trás não faz mais sentido pra mim hoje. Sim, por várias vezes pensei: já tenho 37 anos, vou começar de novo? Porém, eu lembro do mesmo conselho que dei tantas vezes em tantos episódios do podcast: nunca é tarde. Eu já mudei tantas vezes – e nunca me arrependi de ter acreditado em mim. Eu aprendi inglês depois de adulta, espanhol também, comecei francês tem dois meses, e aulas de natação há menos de uma semana. Eu decidi continuar focada na comunicação para falar de temas que, de certa forma, sempre fizeram meus olhos brilharem. Por que não poderia mudar meu foco agora?

Então, tô pronta, universo. Que seja o que tiver que ser.


6 Comentários

  1. A-M-E-I! E vc tá de parabéns! Por tudo, simplesmente! E pode ter um monte de conteúdo por aí, mas o seu é o único de NY que eu sigo! E olha que só fui pra big apple em 2020, depois não voltei mais, mas continuei recebendo e curtindo suas newsletter pq me identifiquei com o seu jeito de comunicar, e te admiro super! Então segue seu instinto e o que seu corpo tá pedindo! Vc já entregou pro universo, confia no processo e cuide de você! Tá todo mundo passando por coisas parecidas, e coragem mesmo é conseguir mostrar nossos processos, por mais difíceis que sejam, e saber que isso ajuda um monte de gente, pq ninguém tem a vida de conto de fadas que mostram no Instagram. Adorei seu texto, e quero continuar sendo inspirada por você, no que quer que seja. Good luck, have fun, and… you rock! 🥰

  2. Chique!!! Que 2024 seja o ano que vc viva de forma mais leve. Cada dia é uma página em branco…. vc decide como preencher este espaço. Vou acompanhar seu site! Quem sabe melhoro meu inglês! Ah… e obrigada por compartilhar, compartilhar e compartilhar… de verdade, muito obrigada!☺️

  3. Linda trajetória! Que a nova fase seja uma continuação do teu sucesso e mais uma realização das tantas que já alcansaste. Parabéns!

  4. Eu admiro tanto seu trabalho! Já usufrui de várias dicas daqui do blog (que alívio saber que ele vai continuar no ar!) e desejo todo sucesso do mundo na nova caminhada.

  5. Admiro muito o seu trabalho, a sua verdade, o seu compromisso com a sua propria felicidade, e continuarei te acompanhando nessa nova fase! Muito sucesso e realizacoes para voce!

  6. Oiii ! Amei , t admiro ainda mais e nunca vou parar d te seguir ❤️ felicidade , sucesso 🙌🚀 bjokas !

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