Essa semana me peguei refletindo muito sobre amizades. Deve ser por conta da semana agitada: acabei de voltar de San Francisco, onde visitei uma das minhas melhores amigas, uma super amiga de longa data chegou aqui em casa ontem e, infelizmente, uma outra amiga super especial está indo embora de Nova York hoje. Aí, eu me pego pensando em como morar em Nova York pode ser ótimo mas também pode ser triste. Aliás, acho que o assunto que vou abordar aqui hoje não é restrito só à Nova York, mas a qualquer lugar do mundo e acredito que todo mundo que mora fora vai se identificar de alguma maneira.
Quando eu era mais nova, a minha mãe sempre me falava que algumas amizades não duravam para sempre. Eu tenho uma vaga lembrança dela falando sobre isso: acho que porque sempre fui muito intensa nas minhas amizades, especialmente na época da adolescência, quando eu tinha só uma amiga. Nunca fui uma pessoa popular no colégio – eu era meio revolucionária, achava que ia consertar o mundo e é muito provável que isso não agradava às pessoas. Eu era a chata, não era uma pessoa muito querida pelos outros. Vai ver isso explica o fato de, mais tarde, eu evitar ao máximo me envolver em coisas como comissão de formatura e outros grupos de liderança na faculdade. Voltando ao que a minha mãe me falava sobre as amizades, eu hoje entendo o que ela diz. Tem pessoas que fazem parte de sua vida de uma forma bem intensa, por um longo período, mas, por conta de escolhas – faculdade, principalmente – acabam não participando mais da sua vida da mesma maneira. O que não quer dizer que elas não sejam especiais e que não exista uma conexão entre vocês. Na adolescência, tive uma amizade super intensa com a Camila – a gente era do tipo que estudava juntas e, quando chegava em casa, corria para o telefone. Sim, acreditem. Vivemos muitas histórias e todos aqueles dramas de amores, do “pede pra mãe que daí ela deixa”, “ei, meu pai leva a gente pra festa e o seu busca, pode ser?”. É tão gostoso, né?
Hoje, a gente não se fala com tanta frequência, mas existe um carinho enorme entre nós, uma conexão, que eu sei que vai ser tipo eterno, sabem? Toda vez que nos encontramos é muito bom. Não parecemos estranhas uma para a outra. E eu não sofri quando me dei conta que a gente já não tinha as mesmas rotinas e não fazia mais tudo juntas, e nem se via tanto. Foi algo que aconteceu gradualmente, devagar. Outras pessoas entraram na vida dela, outras pessoas entraram na minha, mudanças de cidade aconteceram. Nada de uma maneira brusca. Acho que essa é a grande diferença entre as amizades quando a gente está no Brasil: no fundo, sabemos que há pessoas que estão só de passagem, sabemos que há outras que farão parte de nossas vidas eternamente – não importa que seja de uma maneira intensa ou não.
Eu acho que já falei em outras oportunidades que morar fora fez eu mudar meus conceitos sobre fazer amizades. Aqui, quase todo mundo está no mesmo barco: longe da família e dos amigos no Brasil. Escutar alguém falando o seu idioma dá um gostinho de lar. Uma conexão pelas redes sociais, um papo rápido e já temos uma desculpa para marcar um café, trocar relatos, conversar sobre a vida. Às vezes, a conexão é instantânea. Às vezes não rola química. Mas eu acho é que aqui eu me permito muito mais do que quando estava no Brasil. As amizades que tenho lá hoje foram frutos: da faculdade, da pós graduação e de alguns trabalhos. Aqui, as histórias são diferentes. E é louco se dar conta de como algumas pessoas entraram na minha vida. De como pequenas atitudes acabam resultando em coisas grandiosas. E se eu não tivesse ido naquele lugar, naquele dia, será que teria sido assim?
Foi assim com a minha amiga de San Francisco, a Analuisa. Ela morou em Porto Alegre a vida toda e meu marido morou lá por quase dois anos, e trabalhou na mesma empresa que o marido dela trabalhava. Mesmo com os incontáveis churrascos da turma do trabalho, eu e a Ana nunca nos cruzamos. Quis o destino que o marido da Ana fosse transferido pra cá bem na época que o Thiago foi contratado aqui. Eles não trabalhavam mais juntos – mas, vejam só, ter alguém que você conhece morando no exterior na mesma cidade que você é algo que não se pode deixar passar. E foi assim que conheci a Ana, aqui em Nova York, numa noite gelada – eu nem queria sair de casa naquele sábado. A empatia foi tanta que saímos de lá só às 2 da manhã e eu e a Ana já batemos altos papos. Mas, o destino preparou outra surpresa, e a empresa do marido dela o transferiu para San Francisco. A gente continuou mantendo contato, até que eles vieram passar o Natal conosco em 2014 e aí já era – “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. Digo isso porque aquele Natal estreitou tanto os nosso laços que é até difícil explicar. Hoje, a gente se fala praticamente todos os dias: são incontáveis áudios e mensagens.
A Pati, amiga que parte hoje, também entrou na minha vida de uma maneira inusitada. A Ju, nossa amiga em comum, convidou eu e o Thiago para nos juntar ao grupo deles numa viagem de fim de semana para esquiar. Foi empatia à primeira vista – eu e a Pati passamos a manhã inteira conversando e aí eu sabia que tinha ganhado mais uma amiga. Vivemos muitas coisas juntas e ela era sempre companhia certa para um café, um almoço, um programa diferente no fim de semana. Nunca falta assunto nas nossas conversas. E, mesmo essa cidade sendo tão cheia e agitada, eu já sinto que está mais vazia sem a presença dela. Não é a primeira amiga da qual me despeço aqui – mas assim como as pessoas entram em nossas vidas de uma maneira inusitada e instantânea, elas acabam saindo de uma maneira brusca. E dói. Ontem, quando ela saiu do metrô, depois de nos despedirmos, só deitei a cabeça no ombro do Thiago e chorei. Parecia que Nova York estava me dando uma rasteira. Ao mesmo tempo, eu olhava para o vagão ao meu redor e me sentia “livre” para viver o meu sofrimento e soluçar, porque ninguém me julgava – ou ninguém se importava? Nestas horas, parece que a vida quer te lembrar que nada é para sempre ou que você não tem controle nenhum sobre as coisas que acontecem. Parece que é o preço que pagamos. Afinal, para mim, Nova York é uma cidade incrível, vocês sabem disso, mas o fato é que, se você não se acostuma ao ritmo – e não encara os fatos – fica difícil sobreviver aqui. De repente, você está lá, escrevendo um cartão e pensando como será a sua vida sem aquela pessoa por perto. Óbvio que eu não vou deixar de falar com a Pati, afinal, WhatsApp e FaceTime estão aí pra isso, mas o fato de Nova York ser uma cidade na qual muitas pessoas estão só de passagem faz as despedidas serem doloridas demais. Simplesmente vou acordar amanhã e ela vai estar no Brasil, longe. Não é a mesma coisa. E você não pode fazer nada a respeito. Você vai torcer para que o destino se encarregue de colocar aquela pessoa de novo no seu caminho – mas você não sabe o que a vida reserva para você. Não dá pra saber se amanhã ou depois não vai ser você que vai estar indo embora. É tudo louco demais. Morar fora é isso: cativar pessoas, ser cativada e ter que estar preparada para despedidas bruscas e dolorosas. Há uma grande diferença: você não está se “separando” dessa pessoa porque seus caminhos mudaram, seus gostos mudaram, porque mudanças gradativas aconteceram: não. Bruscamente, você se vê obrigado a se despedir, mesmo sem querendo, mesmo sem nunca desejar que aquilo tivesse acontecendo.
Eu tive experiências intensas no Brasil e todas elas fazem parte da minha história. Das colegas de faculdade que viraram madrinhas de casamento, passando pela colega da pós que nunca mais saiu da minha vida, até à menina que comecei a falar por acaso no MSN e virou uma super amiga quando passou um mês aqui, a chefe que virou amiga, as amigas da amiga que não é mais sua amiga e viraram suas amigas, a amiga que conheci pela seção de cartas da Capricho – sim, tenho uma amiga de cartas, né Jaki? Nossa paixão por Sandy & Jr e Hanson nos uniu e nossa história daria um livro… Quem diria, hoje ela está em Londres e eu aqui. Pensando bem, até que eu já tive meus momentos inusitados no Brasil – tipo quando viajei 12 horas de ônibus até Londrina para conhecê-la depois de anos trocando cartinhas. São tantas pessoas que a vida coloca no nosso caminho! Mas morar fora torna tudo mais intenso: sua vida vira uma montanha-russa de emoções, com momentos de solidão, com momentos em que sua agenda está cheia de contatos, com momentos de chegadas e partidas, pessoas que entram na sua vida dos jeitos mais inesperados possíveis – e saem da mesma forma. Talvez esse seja o preço alto que eu tenha que pagar por viver aqui. Não é segredo para ninguém o meu amor por essa cidade e o quanto eu acho ela incrível. Mas como tudo na vida traz ônus e bônus… é preciso encarar os fatos. Talvez esse seja o ônus. Sem contar que eu já acho que ficar longe da família já sai bem caro nesta conta – e os amigos acabam sendo a família que a gente escolhe, que ajudam a confortar o coração, superar a saudade. Mas, é aquela coisa: eu acredito que nada na vida é por acaso. Essas reviravoltas que o destino causa só mostram o quanto não temos controle sobre as coisas e, o que nos resta, é tirar as lições e tentar aprender ao máximo com essas experiências. A velha frase clichê que sempre fala que é preciso viver intensamente nunca foi tão conveniente.
Um brinde às amizades e um brinde à tecnologia que ajuda a gente a manter contato com as pessoas que amamos. Esse post é dedicado a todas as minhas amigas! Pati, amiga: conte sempre comigo!
Laura Peruchi é jornalista, autora e empreendedora. Mora em Nova York com seu marido desde 2014, e, desde então, divide em seu blog um conteúdo variado sobre a Big Apple. Com dicas de turismo, compras, restaurantes e muito mais, sua plataforma online tornou-se referência em conteúdo em português para quem está planejando uma viagem a Nova York. Acompanhe Laura também no Instagram, Youtube, Facebook e Spotify.
Laura,
Que post maravilhoso! Fiquei realmente emocionada! Eu tenho certeza que mesmo com essas perdas, você continua ganhando novos amigos através das redes sociais e seu blog. É impressionante como me sinto parte da sua vida por você dividir tantos momentos especiais com a gente. Esse tipo de depoimento faz de você uma pessoa ainda mais especial, pois mostra seu lado humano e que tem os mesmos sentimentos de outras pessoas que moram fora. Se posso dizer algo neste momento de dor, seria: eu me sinto sua amiga! Rs Acredito que muitas meninas também! Beijinhos Luciana Frias
Ai Lu, que comentário maravilhoso! Esse carinho de vcs não tem preço! Obrigada por estar sempre aqui!
Que lindo texto Laura!!! Super me identifiquei, em diversas fases da minha vida!!! E claro, me emocionei com o texto, com as lembranças q tive ao ler… Beijo grande querida! Fica bem!
Obrigada Glenda, fico feliz ao ver que muita gente se identifica com o que passo! Um beijão!