Sábado, 30 de setembro, Playstation Theater, Times Square, Nova York, Estados Unidos. Já passava das 20h15 quando os irmãos Hanson subiram ao palco e começaram a tocar e a cantar. Ao mesmo tempo em que a música rolava e a galera cantava e gritava junto, um filme começou a passar em minha cabeça. Voltei no tempo e, de repente, eu revivi todas as lembranças da Laura adolescente. À medida em que eu assistia ao show e assimilava que aquilo estava acontecendo, pensei em tudo o que vivi até chegar ali.
Eu era muito intensa quando o assunto eram os meus ídolos – e que adolescente não é? De baixinha da Xuxa, que colecionava todas as fotos possíveis da Rainha dos Baixinhos, tentava ter todas as fitas cassetes e assistia a todos os programas, virei uma adolescente leitora da Capricho. Eu não lembro bem como foi que eu conheci o Hanson – se foi pela revista ou pela rádio que eu escutava. Fato é que quando os meninos estouraram com o hit mmmbop, eles ganharam também o meu coração. Parecia que a preferência geral era pelos Backstreet Boys, mas eu era fiel aos três irmãos. Porém, quando você mora numa cidade pequena – e depende da sua verba de revendedora da Avon (comecei precoce!) – os recursos para satisfazer os seus desejos de fã são escassos. Primeiro, eu descobri que um colega da sala de aula tinha o CD. Original. Com livrinho – a palavra que eu usava para o encarte com a letra das músicas. Não demorou para eu pedir-lhe emprestado. Devo ter ficado meses com aquele CD e até comentei com o meu amigo que ele deveria me dar. Tentativa frustrada, claro. Tive que me contentar com uma cópia. Era assim que eu tinha acesso à música naquela época – tinha que usar as revistas e o meu ouvido não muito bom para descobrir o nome das canções e encomendar um CD personalizado com as músicas que eu queria ouvir. Aí meu pai mandava o pedido para um conhecido dele. Por mim, mandaria gravar um CD novo toda semana, mas meu pai controlava bem essa parte. Enfim. Depois, descobri que outra colega de sala de aula tinha outro CD do Hanson, Live from Albertane, um show ao vivo gravado em Seattle. Escutei, viciei e fiz uma cópia.
Nos anos 2000, o Hanson lançou um disco novo, This Time Around. Ressurgiram muito mais bonitos, em videoclipes que eu acompanhava pelo Interligado, apresentado pela Fernanda Lima, na Rede TV. Aliás, preciso destacar as minhas habilidades com o vídeo-cassete. Fiquei tão feliz quando meu pai nos fez uma surpresa e comprou um. Era o ápice da tecnologia. Era muita alegria ter um vídeo-cassete em casa. Desde cedo, lá em casa eu era a pessoa que desbravava os eletrônicos e aprendia e mexer em tudo. Obviamente, não demorou para eu dominar a arte de programar o vídeo-cassete para que ele gravasse filmes e seriados. E, claro, também gravávamos todos os clipes de que gostávamos – e os calocávamos para repetir infinitas vezes. Uma vez, a Band anunciou que ia passar um show do Hanson num sábado à noite. Eu pirei. Mas era temporada de praia, e, aos fins de semana, nós íamos para a casa de praia do meu avô, onde o sinal da Globo mal funcionava – quem dirá da Band. Implorei à minha mãe para ficar em casa, assistindo e gravando o show. Ela não deixou e eu tive que colocar as minhas habilidades de dominadora de vídeo-cassete em prática. Com medo de perder o início e o fim do show, deixei uma margem enorme e acabei gravando não só o show, mas a programação anterior e posterior a ele, hehehe. Claro que não demorou para eu decidir que eu queria comprar aquele novo CD do Hanson. Original, obviamente, porque eu não estava de brincadeira. Quando você ama tanto os seus ídolos, não tem graça fazer cópias ou comprar a versão pirata. Na minha cidade, não havia lojas para comprar CDs. Numa das idas ao dentista – que ficava numa cidade vizinha – pedi para minha mãe para pararmos numa loja do centro e procurar o CD. Encontramos. Comprei. Acho que paguei uns R$36 – e olha, para aquela época, era muita grana para um CD. Entretanto, foi um dos melhores investimentos da adolescência. Eu lembro da minha satisfação até hoje ao receber aquele CD. Tinha um cuidado especial ao manuseá-lo e sempre o deixava guardado na caixinha. Acredito que ele ainda esteja na casa da minha mãe, em meio a alguns objetos que ficaram lá com a minha mudança para Nova York.
Foi com o Hanson que eu praticava e melhorava as minhas habilidades em inglês. A internet ainda era lenta – e eu só fui ter acesso a ela quando fui morar em outra cidade para estudar – e eu agradecia quando a Capricho trazia letra e tradução de alguma música que eu conhecia. Mas eu era sedenta. Sedenta por aprender e por entender o que eles diziam naquelas canções que eu escutava e tentava reproduzir o som. Quantas tardes eu fiquei sentada no chão e usando a cama como mesa para traduzir – palavra por palavra – cada uma das minhas músicas favoritas. Dicionário em uma mão e papel e caneta em outra mão, eu ia montando aquele quebra-cabeça. Muita coisa não fazia sentido, mas era tão incrível dar, pelo menos, algum significado àquelas letras em inglês. Não me lembro bem o que eu fazia com as traduções depois que as concluía – mas era sempre uma satisfação dar conta dessas tarefas que eu inventava para mim mesma.
O amor pelo Hanson também foi responsável por me apresentar alguém que depois se tornou uma das minhas melhores amigas. A Capricho tinha uma seção de anúncios para troca de material de ídolos. Funcionava assim: “Fulaninha, que mora na cidade X, tem material do Hanson e troca por fotos dos Backstreet Boys”. Numa dessas, lá fui eu escrever uma carta para a fulaninha. Ela era de alguma cidade do nordeste. Imaginem: carta. A carta foi e algumas semanas depois veio a resposta: ela não tinha mais material para trocar. Mas me mandou uma corrente. É, correntes não são exclusividade de grupos de Whatsapp. Elas provavelmente têm origem num mundo muito distante, onde as pessoas resolveram acreditar que algo que é repassado 340408585 vezes pode se tornar realidade. Enfim. A corrente tinha boas intenções. Era uma lista com nomes e endereços. A ideia era enviar um cartão para a primeira pessoa da lista – retirando o nome dela – e incluir o seu no último lugar da lista. Aí, você enviava a corrente para outras pessoas e, muito em breve, você receberia 30 cartões. Até hoje não sei o motivo pelo qual eu me empolguei em receber 30 cartões de pessoas desconhecidas – vai ver era carência – mas fato é que acabei seguindo o bonde e enviei a carta para a primeira menina da lista. Seu nome era Jaqueline. Não demorou para ela me responder e me contar que era fã de Sandy & Júnior. Eu respondi de volta. Ela também. E assim foi por anos até que a amizade saiu das cartas (há uma caixa de cartas dela na casa da minha mãe) e foi para o mundo virtual e depois para o real. Eu a visitei em Londrina, Paraná, onde ela morava, ela foi para Santa Catarina para a minha formatura. Enfrentamos 12 horas num ônibus. Hoje, ela mora em Londres e continua na minha vida – inclusive estive lá em junho. Louco? Louco. Mas isso tudo aconteceu por causa do Hanson.
Nos anos 2000, o Hanson também esteve no Brasil e anunciou show em Porto Alegre, a cidade mais próxima de onde eu estava. Acho que o show foi durante a semana, não lembro muito bem. Só lembro que eu pirei, queria porque queria ir. Não lembro qual foi a explicação da minha mãe, mas ela deixou claro que não, não ia rolar. A Camila, minha companheira de todas as horas naquela época, logo bolou um plano mirabuloso. O pai dela, caminhoneiro, tinha vários motoristas. Ela, sempre com espírito aventureiro, já foi traçando os planos: iríamos para Porto Alegre de caminhão, com um dos motoristas amigos do pai dela. Lembro com carinho do esforço dela para tentar realizar o meu sonho – sim, ela nem era fã, mas embarcaria na aventura comigo. Nem preciso dizer que o pai dela tratou de cortar a nossa ideia rapidinho, né?
Depois disso, eu perdi totalmente as esperanças. No Brasil, quando você não está perto de um grande centro, fica bem complicado ter a chance de ver de perto todos aqueles artistas que você admira. Não sei se cheguei a ter esse exato pensamento, mas, em minha minha cabeça, aquela seria minha única chance. Nunca mais eu teria uma oportunidade de realizar o meu sonho. Era fato: eu nunca iria ver o Hanson na minha vida. Quando lembrei de tudo isso no sábado, 30 de setembro, ao vê-los na minha frente – e tão perto – eu chorei. Chorei da maneira mais pura e honesta, sem segurar, sem me importar. Chorei por ter conseguido realizar o sonho daquela menina de 13 anos. Chorei por lembrar todas as coisas legais – e não tão legais – que passei em minha adolescência. Chorei por estar feliz e emocionada e por me dar conta de como Nova York realizou vários sonhos da minha vida. Vejam bem, eu tenho problemas e questões mal-resolvidas. Muitas pessoas podem pensar que eu vivo um conto de fadas, mas eu também lido com muitas frustrações e muitas barreiras – que não me cabe falar neste momento. Eu também dou murro em ponta de faca, eu não sei se vou chegar onde gostaria. Às vezes, eu tenho raiva de Nova York. Mas, talvez, Nova York não tenha acontecido em minha vida para satisfazer todos os meus objetivos. Talvez, Nova York tenha acontecido para que eu pudesse realizar outros sonhos. O sonho de conhecer os ídolos da adolescência (não só Hanson), de estudar a língua que eu sempre amei, de conhecer os lugares com que eu sempre sonhei… De repente, Taylor Hanson interrompe meus pensamentos e anuncia a próxima canção.
“I was born to do something no one’s ever done, no one’s ever done before. I was born to go somewhere no one’s ever gone, no one’s ever gone before. I was born to be someone no one’s ever been, no one’s ever been before”.
“Eu nasci para fazer algo que ninguém nunca fez, ninguém nunca fez antes. Eu nasci para ir a lugares que ninguém nunca foi, ninguém nunca foi antes. Eu nasci para ser alguém que ninguém nunca foi, alguém que ninguém nunca foi antes.”
Mandei uma mensagem para a minha mãe e agradeci por tudo que ela fez por mim. Pulei, cantei, gritei, chorei. E lavei a alma.
Clique aqui e confira a tradução da música.
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Laura Peruchi é jornalista, autora e empreendedora. Mora em Nova York com seu marido desde 2014, e, desde então, divide em seu blog um conteúdo variado sobre a Big Apple. Com dicas de turismo, compras, restaurantes e muito mais, sua plataforma online tornou-se referência em conteúdo em português para quem está planejando uma viagem a Nova York. Acompanhe Laura também no Instagram, Youtube, Facebook e Spotify.
E eu chorei por conta da tua emoção. Bonita demais tua trajetória e a realização de todos estes sonhos. Que venham muito mais!
Eu to derramando lagrimas com esse relato puro e lindo Laura!! Eu tb me emocionei muito, nem acreditava que tava vendo eles ali na minha frente!!! São momentos como esse que sabemos que nossos sonhos se realizam,até aqueles mais antigos de adolescência que achavamos impossivel!!
Me emocionei no dia, me emocionei escrevendo e me emocionei com seu comentário! É muito bom realizar sonhos mesmo!
Me identifiquei tanto!! Meu primeiro show deles foi em 2011, São Paulo. Morava em fortaleza e até então, nunca tinha conseguido ir, por causa desse deslocamento que vc muito bem falou e grana. Em 2011 , já trabalhando, peguei um avião e fui! Agora em 2017 novamente, em Salvador, já casada (e levei o marido pro show hehehe)! Foi muita emoção, mas a emoção do segundo show é diferente do primeiro (vc vai ver!), É mais alegria e vontade de dançar. Fiquei chateada q estarei em NY no final desse mês e perdi o show do PlayStation theater e perderei o de Natal, mas cada coisa ao seu tempo né!? Um abração Laura e parabéns pelo sucesso do blog!! Meu roteiro agradece 😉
Adorei saber a sua história! Que pena que vc perdeu as oportunidades aqui, mas que bom que vc teve mais de uma chance no Brasil, pensa nisso! Obrigada pelo carinho! Um abração!
Laura, sou super fã do seu trabalho e sou super fã dos Hanson também. E me identifiquei muito com sua história…também ficava trocando cartas com fãs e traduzindo as músicas também. Tive a sorte de conseguir ir ao show deles duas vezes aqui no Brasil e me emocionei com o seu relato!
Relato sensacional.
Abraço!