by : Laura Peruchi
Quando surge o assunto “eu moro em Nova York” numa conversa, não é raro que a pessoa comente como sou sortuda de estar aqui, como deve ser bacana, glamouroso, etc, etc, etc. Nem culpo quem pensa assim – afinal, eu mesma cresci achando que morar no exterior era padecer no paraíso – ou quase isso. A gente tem um pouco daquela síndrome de que a grama do viznho é mais verde, aí, tende a supervalorizar tudo que é de fora – e quase sempre usar a frase “só podia ser Brasil” quando se trata de ressaltar algum defeito e achar que nos outros países – os de primeito mundo – tudo é uma perfeição e que problemas não existem. Isso sem contar as viagens que a gente – quando pode – faz ao exterior. Os dias de folga regados a passeios, refeições e compras só ajudam a alimentar a tese e não é raro ver alguém dizendo que não quer ir embora. Mas, acreditem no que vou dizer agora – que por mais óbvio que seja, preciso dizer: fazer turismo é diferente de rotina e dia a dia.
Ontem mesmo estava assistindo a um vídeo de um canal no Youtube e a pauta era: afinal, o que é o tal de primeiro mundo? Em alguns minutos, a Denise e o Henry – que agora moram em Madri – divagaram sobre o que envolve afinal essa qualidade que tantos países carregam e encantam tantos pelo mundo afora. Não é promessa de dinheiro fácil – é simplesmente qualidade de vida e retorno em pagamento de impostos. Basicamente, acho que essas seriam as maiores vantages dos países ditos de primeiro mundo. Engana-se quem vai sair do Brasil e achar que vai se dar bem trabalhando pouco e enriquecendo em poucos meses. Não, sinto te dizer, mas se você tem essa visão, então tá na hora de se informar melhor. Morar fora não é sinônimo de mordomia – muito pelo contrário, as pessoas ralam pra caramba e talvez trabalhem até mais do que quando moravam no Brasil.
Aproveitando a deixa, o termo qualidade de vida é muito relativo. Analise o exemplo de Nova York. A maioria das pessoas já fica com os olhos brilhando ao pensar em ganhar em dólar. Mas, não esqueça: aqui você também gasta em dólar. E o custo de vida não é barato. Você ganha mais – dependendo do seu emprego, é difícil generalizar – mas gasta pra caramba também. Sem contar, por exemplo, o tamanho dos apartamentos. Se você considerar que ter um lar confortável e espaçoso significa qualidade de vida – bom, então talvez Nova York não seja para você já que aqui as pessoas praticamente se espremem em apartamentos minúsculos. Não é à toa que as lojas de itens para casa e afins são cheias dos mais variados trecos para aproveitamento de espaço. Cada centímetro quadrado é valioso, acredite. Além do mais, outro fator que implica muito na tal qualidade de vida é o tanto que você trabalha. Não quero generalizar, mas diria que 90% das pessoas trabalha muito mais horas aqui do que no Brasil. Vive-se correndo para não perder o trem, a hora do almoço é escassa e não há abundância de feriados – tampouco férias de 30 dias e décimo terceiro salário.
Isso tudo sem contar outras coisas meio que óbvias, mas que merecem ser lembradas. Como por exemplo, o fato de ninguém falar sua língua (ok, tem muitos brasileiros, mas eles não vão estar em todos os lugares nos quais você precisará deles) e você não conhecer ninguém. Aqui temos a vantagem do inglês, que é um idima relativamente fácil. Agora imagine alemão ou mandarim. Fica bem mais complicado, né? Morar fora é aprender a encarar a vida sozinho, sem ter a quem recorrer por um bom tempo. As amizades não surgem facilmente e nem todo mundo é solidário. O número de pessoas que estão dispostas a te ajudar é bem menor do que o número daquelas que simplesmente te ignoram ou, pior, querem puxar seu tapete. Não pense que todo mundo vai resolver te ajudar porque você acabou de chegar. Eu mesma depois de quase um ano aqui em Nova York conto nos dedos – de uma mão – as amizades que fiz. Parece familiar?
Ainda tem a parte crucial da história toda, a que faz você se balançar pela sua decisão várias vezes, repensar sua vida e, ao fim de tudo, chegar à conclusão de que nunca vai ter um veredicto: a distância que separa você da sua família e de todos os amigos especiais que deixou ao se mudar. Pelo menos, para mim, isso pesa bastante. Não estar presente naquele almoço de domingo, naquela comemoração especial, jogar conversa fora com seus pais, seus irmãos… E mais, os encontrinhos das amigas vão continuar acontecendo, mesmo sem você lá, as jantinhas e tudo mais que antes você fazia parte mas agora não tem mais como, porque está beeeem longe. Às vezes, a vida fora pode ser bem solitária.
E ainda temos que lembrar daqueles que arriscam tudo, largam o que tem e vão morar no exterior nessa busca incansável pela melhoria de vida e, muitas vezes, trabalham em algo que nunca trabalhariam no Brasil. Você estaria disposto? Porque não é a coisa mais fácil do mundo seguir uma carreira no exterior – é preciso levar em conta a necessidade daquele mercado, a concorrência de candidatos – além do seu domínio do idioma – e o quão bom você é para garantir seu lugar ao sol. Eu mesma abri mão de muitas coisas na minha carreira para estar aqui e hoje estou tendo que recomeçar, correr atrás e tudo mais. Não é algo impossível – mas não é algo fácil. Pelo menos sei que estou tendo um aprendizado de vida que talvez nunca tivesse antes.
Não estou aqui para fazer mimimi ou para que venham me atirar pedras e perguntar por que não volto para o Brasil. A minha experiência está sendo ótima e de grande aprendizado. Eu não sei se ficarei aqui a vida toda, mas sinto que está, sim, valendo a pena. Entretanto, como tudo na vida, nada é perfeito. Contos de fadas não existem – e eu resolvi ressaltar um pouco desses “poréns” para lembrar vocês disso. Há muito a ser pesado antes de tomar uma decisão importante como essa – e é melhor você estar ciente de todos os ônus que acompanham os bônus de morar fora. No fim, é aquela máxima que a gente sempre ouve e deve ser aplicada: é preciso muito esforço, trabalho e dedicação. Sem moleza – afinal, nada cai do céu. Nem no Brasil, nem nos Estados Unidos, nem na China.
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Laura Peruchi é jornalista, autora e empreendedora. Mora em Nova York com seu marido desde 2014, e, desde então, divide em seu blog um conteúdo variado sobre a Big Apple. Com dicas de turismo, compras, restaurantes e muito mais, sua plataforma online tornou-se referência em conteúdo em português para quem está planejando uma viagem a Nova York. Acompanhe Laura também no Instagram, Youtube, Facebook e Spotify.
A gente tem que enfrentar os problemas da vida, seja no Brasil, em Nova York…
as pessoas acham que, pelo fato de vc ir morar fora, vc vive turistando né ? rs
eu nunca morei fora… mas essa é a impressão que as pessoas me passam !
Beeijo meu !
Te espero lá no blog ~ http://www.cosmacticos.com
Eu tenho vontade de passar uma temporada fora do Brasil para viver uma experiência que eu sei que vai ser única,estou me preparando para 2016 passar pelo menos 6 meses em algum pais que ainda não escolhi para que eu possa me especializar em maquiagem.
Beijos
Mulher Antenadíssima ♥♥
Lindaaaaa do meu coreeee! <3 <3 <3 Vontade de publicar teu texto na timeline de um zilhão de pessoas. Hehehehhe… Beijooo!
Oi Laura, um amigo comentou q vc tinha falado sobre a gente em seu post. Obrigada por citar! Nós moramos em NYC por 4 anos, depois moramos em outros 5 países, sempre viajando pelo mundo afora, antes de morar fora do Brasil eu achava q primeiro mundo era algo perfeito, sem defeito algum, qdo na verdade é mais sobre a consciencia do povo, a maneira como as pessoas se comportam. Elas nao esperam que tudo venha do governo, elas FAZEM. Elas nao vivem so reclamando, elas mudam, elas realmente cobram dos politicos que votaram, elas cuidam do que é publico como se fosse delas.
Abraco,
Denise
Adorei o texto! Mas no final valerá a pena! Bjs
Adorei.. estou com um draft sobre o assunto no blog.. e minha total incapacidade de adaptar.. aliás tenho vários posts… mostrando que não é fácil.. e não vejo a hora de voltar, embora saiba que está sendo um mega aprendizado.. bjs
Que bacana seu post, Laura. Tenho esse desejo faz bastante tempo e a minha maior questão realmente é a família. Acho que é algo que algumas pessoas tem mais facilidade de encarar e outras não. Mas realmente sinto que preciso enfrentar como crescimento pessoal. Vamos à luta! bjs
Ótimo texto e excelente reflexão. Quem dera a vida se tornasse um conto de fadas com uma mudança de país, de emprego, de "mundo". Força na peruca e continua aproveitando as experiências que essa oportunidade te trás e, claro, continue contando tudo pra gente. 😉