Se você for pesquisar em qualquer guia de viagem sobre Nova York, vai encontrar dicas do que fazer na cidade e, provavelmente, uma lista daqueles lugares que são imperdíveis. Contemplar as luzes da Times Square pode ser mágico, assim como é encantador caminhar pelo Central Park. Ver a Estátua da Liberdade é a realização de um sonho para muitos e visualizar a cidade do alto do Top of the Rock é simplesmente inesquecível. Mas essas listas sobre essa cidade que habita o imaginário de tanta gente e que já foi pano de fundo para tantas histórias inesquecíveis contadas por Hollywood deixa de fora algo essencial da experiência novaiorquina: o metrô.
Sim, o metrô é sujo, é feio e talvez não renda o clique mais instagramável. Mas deixar de conhecer esse que é praticamente uma instituição da cidade é deixar de lado a chance de se conectar com a Nova York vida real, cheia de contrastes, de verdades, de alegrias, de risos e até mesmo de tristezas. Sou grata por esse sistema que me dá a liberdade de não precisar de carro e de chegar no meu destino rapidamente. Ok, há controvérsias, mas, isso é assunto para outro dia. Entretanto, a experiência no metrô vai além de um simples meio de transporte.
É interessante observar como o clima dentro dos vagões reflete o estado de espírito das pessoas. Pegar um metrô numa segunda-feira pela manhã é certeza de você não escutar nem um sussurro. Todos estarão concentrados em seus smartphones ou em seus livros, cansados do fim de semana e talvez até de saco cheio de estarem voltando à rotina. Parece uma afronta quebrar aquele silêncio. Já numa sexta à noite, o cenário muda. O silêncio dá lugar a conversas em voz alta, risos e animação.
Obviamente, esse cenário não seria tão interessante sem alguns personagens peculiares. Particularmente, eu me divirto quando o condutor está no seu melhor dia e anuncia as paradas com um “quê” de bom humor. No fundo, ele sabe que tá todo mundo carrancudo dentro dos vagões, mergulhados em seus smartphones e que arrancar um sorrisinho das pessoas, mesmo que discreto, não custa nada. Claro que o metrô também tem os personagens mais tristes. Veteranos pedindo dinheiro, mães desesperadas, até crianças vendendo doces. Confesso que isso sempre toca meu coração e me faz lembrar do quão privilegiada eu sou. Sim, Nova York é incrível – mas eu sei o quão cruel ela pode ser para outras pessoas.
Mas, falando ainda dessas figuras carimbadas do metrô, não tem como não lembrar dos acrobatas. A administração até faz alguns avisos reiterando que as barras dos vagões não devem ser usada para danças, mas os caras nem se importam. Confesso, tem dias que eu acho o máximo ver os pulos e piruetas que eles dão. Tem dias que eu só quero que eles terminem logo por medo de ser atingida com um pé no meio da minha cara. E, de todos esses personagens relatados não tinha como esquecer os músicos. Violão, sanfona, batuque: nos vagões e nas estações, a música sempre tem espaço. Tem performances, tem dança, tem cantoria. Não nego que eu amo mesmo quando um quarteto de senhores entra cantando no vagão a capela, sem instrumento. Eu sinto que eu ganhei um presente. Não importa meu estado de espírito: a música deles sempre traz um quentinho no meu coração, arranca um sorriso do meu rosto e faz eu me sentir grata por estar naquele momento. Sorte a minha ou não, já fui agraciada com esse presente dezenas de vezes.
É claro que a rotina no metrô de Nova York não tem só momentos alegres e descontraídos. Não esqueçamos que estamos falando de uma cidade onde ninguém tem tempo pra nada, tá todo mundo sempre correndo e muitas vezes de mau humor. São as olhadas impacientes no túnel – como se isso fosse fazer o metrô vir mais rápido – são os olhares frustados de quem perdeu o metrô por 5 segundos ou a decepção em ver que o seu trem está lotado e você vai ter que esperar longos 5 minutos pelo próximo. Mas isso tudo vira bobagem quando o transporte público vira cena do choro. Ah, o choro. Dizem que isso é até um ritual de passagem: você só se torna um novaiorquino de verdade ao chorar no transporte público. É um pouco da dor e da delícia de ser quem você quiser e ninguém se importar com você – ou seria você que não se importa com o que vão pensar de você e, livremente, deixa as lágrimas escorrerem?
NO fim das contas , o que mais impressiona no metrô de Nova York são as sutilezas e os pequenos detalhes: as coincidências de encontrar alguém conhecido por acaso, a alegria de reconhecer um rostinho famoso da TV e, claro, os contrastes. O alto e o magro, o rico e pobre, o branco e o negro o engomadinho e o alternativo, o brasileiro, o americano, o francês, o italiano, o chinês, o colombiano, o japonês – todo mundo sendo igual, nem que seja por uns instantes, dentro do metrô.
Mas quer saber mesmo qual o melhor momento de todos? É quando o trem pega aquele caminho diferente, sai da vibe subterrânea e atravessa a Manhattan Bridge em direção ao Brooklyn. É como se seus olhos fossem puxados da tela do celular para a janela do vagão. É como se Nova York estivesse abanando pra você e te lembrando, mais uma vez, de como ela é incrivelmente linda e louca.
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Laura Peruchi é jornalista, autora e empreendedora. Mora em Nova York com seu marido desde 2014, e, desde então, divide em seu blog um conteúdo variado sobre a Big Apple. Com dicas de turismo, compras, restaurantes e muito mais, sua plataforma online tornou-se referência em conteúdo em português para quem está planejando uma viagem a Nova York. Acompanhe Laura também no Instagram, Youtube, Facebook e Spotify.