Aquele ano de 2014 foi um ano de descobertas e de aprendizados. Era o meu primeiro ano morando em Nova York, e eu cheguei aqui cheia de expectativas, ideias e planos. Eu pisei na capital do mundo achando que eu ia fazer e acontecer. Mas, havia um detalhe: aquela Laura ignorava o fato de que existiam outras oito milhões de pessoas morando nessa cidade e querendo um lugar ao sol. Ou seja, eu deveria saber que não é de um dia para o outro que os frutos daquilo que você planta são colhidos. Mas, quer saber? Às vezes, a ignorância é uma dádiva. Talvez, se eu levasse em conta o tamanho da “concorrência” na cidade, jamais teria tentado, pois me sentiria intimidada e incapaz. Tentar e não conseguir, certamente, é melhor do que não tentar por puro medo de fracassar. E, de fato, hoje, cinco anos depois, posso dizer que as coisas, de certa forma, aconteceram, mas não do jeito nem na velocidade que eu gostaria. E lidar com isso não foi um processo fácil.
Quando eu comecei a organizar as coisas para a mudança para Nova York – leia-se vender tudo, resumir a vida em duas malas, começar a lidar com as despedidas, decidir como eu iria continuar com o trabalho em mídias sociais e meus clientes – eu tive uma ideia. “Quando eu chegar a Nova York, vou começar a fazer vídeos para o Youtube sobre a cidade. Vai ser maravilhoso, vai bombar”. Foi mais ou menos assim que o pensamento surgiu em minha cabeça. Lembro que, depois que nos mudamos para o nosso apartamento, eu consegui focar nesse plano. Acabei aproveitando uma promoção e troquei minha câmera e comprei um tripé e microfone de lapela. E lá fomos nós. Escolhi Chinatown como o tema para o meu primeiro vídeo sobre Nova York e é bizarro pensar nessa escolha, porque, hoje, Chinatown está longe de ser uma região que me encanta. Mas, na época, lembro que eu achei intrigante o fato de existir um bairro tão peculiar em meio de uma cidade como Nova York. Um bairro que conseguia manter viva sua cultura original de diversas maneiras – das placas à língua. Aquilo me deixou fascinada. De certa forma, acho que era Nova York me mostrando, de cara, como a cidade é rica em tantas facetas e que não é à toa que tem título de lugar cosmopolita. Detalhes à parte, foram necessárias três idas ao bairro para concluir o vídeo. O fato de a gente não conhecer bem a região somado à falta de técnicas do Thiago com a câmera, minha falta de organização com roteiro – tudo contribuiu. Mas o primeiro vídeo saiu e, depois dele, o processo foi ficando um pouco mais simples – mas nunca fácil nem rápido.
E aí entra uma reflexão da qual eu só me dei conta recentemente. Se eu pudesse falar qualquer coisa para aquela Laura de 2014, certamente eu diria para ela ser mais paciente e deixar o imediatismo de lado. Eu fiz um, dois, três, quatro vídeos, fui redescobrindo o programa de edição, fui pensando nas pautas. Mas os números, que tanto importavam para mim, não cresciam da maneira que eu imaginei. Em poucos meses, apesar de ter recebido uma resposta interessante do público, eu estava inquieta. Eu estava insatisfeita. Eu ficava cansada por antecedência quando o fim de semana chegava – período em que o Thiago conseguia me ajudar com os vídeos. Eu via aquilo como um fardo – algo que me dava muito trabalho, algo para o qual eu dedicava muito tempo e do qual eu só queria me livrar logo – e que não me trazia o retorno que eu queria. Foi assim por alguns meses, até que eu desisti do canal. Aquilo não me trazia felicidade – mas, sim, um monte de cobranças e frustrações. É óbvio que àquela altura do campeonato, aquela Laura que achou que iria arrasar já tinha descoberto 292833737 pessoas que estavam fazendo o mesmo que ela na internet. E, claro, quando isso aconteceu, eu caí numa armadilha perigosa: a da comparação.
Eu fui descobrindo canais e pessoas que faziam o que eu fazia, de outras formas, com abordagens diferentes que eu não me identificava. Eu não entendia o motivo pelo qual, em minha visão, todo mundo ao meu redor crescia e tinha sucesso criando conteúdo no Youtube ou no Instagram, e eu continuava “estagnada”.
Com o tempo eu aprendi que a comparação, apesar de ser, muitas vezes, inevitável, é uma distração que desfoca de seus reais objetivos. Enquanto você estiver prestando atenção só no outro, você esquece os seus valores, as suas metas, aquilo que você tem que fazer. Você acaba, por fim, perdendo tempo demais olhando para o que o outro faz ou deixa de fazer e deixa que isso esgote suas energias, de modo que o tira de seu verdadeiro foco. Quando eu aprendi que não há nada que eu posso fazer para controlar o que os outros fazem, mas, sim o que eu faço, tudo mudou de perspectiva. Ninguém mais era uma ameaça para mim. E sabe por quê? Porque só existe uma Laura no mundo. E eu sou especial de alguma maneira. E o tempo que tenho é melhor aproveitado ao focar no que tenho que fazer – e não cuidando do que outro está fazendo.
Nessa época, eu tinha várias crenças, digamos, bem limitantes. Uma delas era a de que eu precisava ser indicada, citada, mencionada por alguém muito grande. E que, quando isso acontecesse, tudo mudaria, da noite para o dia. Meus números cresceriam exponencialmente, as marcas viriam atrás de mim, tudo fluiria de maneira mágica. Em tempos de internet, uma menção nas redes sociais ou uma collab num canal é como o QI de antigamente. E é óbvio que essas coisas ajudam de alguma maneira. Mas não são tudo. E quando você despeja expectativas altas em coisas assim, acaba colocando em algo incerto toda a responsabilidade e peso do crescimento em algo que você nem sabe se vai ter. É claro que, naquela época, eu não me dei conta disso. Eu entrei em contato com muita gente, tentei muita coisa, procurei inúmeras pessoas para parcerias. E levei muitos nãos ou fui deixada no vácuo. E dói, viu? Qual o ser humano que lida maravilhosamente bem com rejeição? Não essa canceriana, com certeza. O aprendizado disso? Mais paciência, menos imediatismo – eu já disse que sou ansiosa? Pois é. Não tem nada melhor do que encontrar a sua identidade e ser autêntica. E isso pode levar tempo. Anos, talvez.
E é por isso que a gente vai aprendendo a lidar com o fato de ter concorrência e com o fato de ter gente que o copia (sim, já aconteceu diversas vezes). É óbvio que ninguém tem sangue de barata – mas, novamente, encontrar a sua essência ajuda a manter a calma nessas horas e lembra, novamente, de que você é, sim, único no mundo e tem algo de especial que é só seu. em meu primeiro ano aqui, como falei, eu tentei diversas coisas. Eu comecei o canal, eu escrevia de vez em quando sobre Nova York em meu blog, eu fui estudar inglês, atendia meus clientes de mídias sociais, tentei fazer pesquisa de tendências, criei serviço de Beauty Shopper e, no meio disso tudo, tentava manter a essência do meu blog, que, àquela altura, falava sobre moda e beleza. Eu fotografava meus looks para postar no blog – sim, sou da época do post de look do dia e hoje eu vejo que aquilo era mais uma forma de ser alguém que eu não era em essência. É bacana a gente se inspirar nas ideias dos outros – não copiar – mas, por inspiração, eu entendo usar um exemplo e adaptá-lo a algo que tem a ver com você. Eu só queria repetir uma “fórmula” de sucesso e fazer sucesso com as roupas que eu vestia – sendo que nem um estilo definido eu tinha. Eu nadava conforme a maré, usava roupas que eu achava que iam me deixar estilosa e descolada, mas aquilo, no fundo não tinha nada a ver comigo. Eu queria ser inspiração para as pessoas – mas, o que eu vestia não fazia sentido direito para mim, então, como faria para os outros? Engraçado é que, alguns anos depois, eu vejo como a autenticidade e a espontaneidade são peças-chave nesses casos. Primeiro, porque daquele guarda-roupa de cinco anos atrás, pouca coisa sobrou. Segundo, porque hoje eu tenho muito mais segurança ao escolher as roupas que vou vestir e acabei conseguindo, sem planejar muito, inspirar através das fotos que posto de vez em quando no Instagram. Os comentários que eu tanto esperei sobre os tais looks acabaram chegando – mas. de uma forma natural. Como a gente diz em inglês: I was trying too hard. Nem sempre o “fake it until you make it” funciona.
E aquela tal pausa no canal acabou não durando muito tempo, resolvi voltar – e hoje percebo que foi antes do tempo certo, antes de realmente amadurecer. Eu enchi a minha mente de argumentos, encontrei maneiras, jurei que eu levaria as gravações de maneira leve e, para mim naquele momento, levar de maneira mais leve era fazer da maneira mais fácil, que desse menos trabalho possível. Voltei. Mas, quer saber? A verdade é que até alguns meses atrás eu estava no Youtube porque tinha que estar. Na minha cabeça, fazia parte do pacote. A minha menina dos olhos era o blog, mas eu não amava. Durante cinco anos, não sempre, mas, na maioria das vezes, o Youtube foi um fardo, uma grande responsabilidade. Eu ficava ansiosa quando o fim de semana chegava e me dava conta de que não tinha vídeos prontos. Eu não planejava. Eu queria fazer para riscar aquele compromisso da minha lista de tarefas. Eu nunca fui de postar qualquer coisa – porque tenho alma de jornalista e sempre me preocupava em oferecer um conteúdo que fosse relevante, que acrescentasse. Mas eu não fiz isso estando sempre feliz. E eu também jogava isso para o universo: “só estou no Youtube porque tenho que estar, não é minha prioridade”. No ano passado, aconteceu de novo: a tal armadilha da comparação começou a me atormentar e eu estava mais uma vez me lamentando e me martirizando a respeito dos meus números. Quase cinco anos de canal e parecia que as coisas cresciam a passos lentos. Sabe a sensação de nadar, nadar e nadar, ver todo mundo passando ao seu lado, chegando à praia e você continua lá, nadando? Pois é. Era assim que eu me sentia. Até que a ficha caiu, e eu levei um tapa na cara que me ensinou muita coisa. Como eu queria colher frutos de algo para o qual eu não me dedicava? Como eu queria ver os melhores resultados se eu não estava dando o meu melhor? Foi doloroso admitir isso para mim – mas eu tive que me dar conta de que bons resultados vão chegar com esforço e muito trabalho envolvido. Quando o nosso esforço é medíocre, muito provavelmente os resultados serão medíocres também.
Agora, entrando numa nova fase, com planejamento, dedicação e muito mais esforço, eu tenho garantias de que vou colher os frutos que eu almejo? Infelizmente, não. Mas o processo está mais leve; estou tentando aproveitar todas as etapas com leveza e realmente tendo prazer ao criar vídeos legais. Eu transformei a compara ção em inspiração, convertendo em gás e incentivo para executar meu trabalho de uma maneira cada vez melhor. Eu estou feliz com o que eu faço. E o que aconteceu? As pessoas perceberam isso. E, quer saber? Mesmo que lá na frente nada saia como eu planejei, eu terei a certeza de que eu dei o meu melhor, de verdade, para alcançar os resultados que eu tracei. Eu vou saber que nem tudo dependia só de mim – mas o que eu pude fazer, eu fiz.
- 5 anos em Nova York – uma história nunca contada
- 5 anos em Nova York – os desafios no primeiro mês morando fora
- 5 anos em Nova York – os planos profissionais e a tal “dependência” financeira
Laura Peruchi é jornalista, autora e empreendedora. Mora em Nova York com seu marido desde 2014, e, desde então, divide em seu blog um conteúdo variado sobre a Big Apple. Com dicas de turismo, compras, restaurantes e muito mais, sua plataforma online tornou-se referência em conteúdo em português para quem está planejando uma viagem a Nova York. Acompanhe Laura também no Instagram, Youtube, Facebook e Spotify.
Você é maravilhosa! Te admiro muito!
Oi. Rs to curtindo demaaais seus videos nas duas últimas semanas. Eu to Indo p NY Passar um mês. E ainda Nao to nessa animacao toda. Vc tá me animando, me ajudando. E te falar, que bom que tem outros com o mesmo foco de “Dicas de NY”. Tem horas que fico cansado da narrativa de um, daí eu assisto outro. Anyway é bom Ter outros ángulos. Mas confesso que vc tem a Minha alto preferencia. E vc é beeeeem naturaaal!! Vibe maravilhosa!!!