Mudança: 7 coisas que eu aprendi procurando apê em Nova York

“Em Nova York, você está sempre procurando um emprego, um namorado ou um apartamento”. Esta frase de Carrie, em Sex and the City, nunca fez tanto sentido na minha vida.

Eu acho que talvez nem tenha mencionado este fato aqui no blog, porque sou um pouco supersticiosa com algumas coisas: não gosto de espalhar aos quatro ventos algo que não está 100% certo. Parece que pode acontecer alguma coisa – alô inveja! – e o negócio já desanda. Por isso, esperei assinar o contrato e pegar a chave para poder falar que: nós vamos mudar de apartamento! No final desta semana, estaremos num lugar novo, com o qual sonhamos muito e que esperamos que nos faça muito felizes. Atualmente, moramos num apartamento de um quarto e queríamos mais espaço. Mas, como a frase de Carrie já sugere, não pensem que foi um processo fácil. Foi uma busca que durou semanas e causou muita preocupação – e até mesmo pesadelos.

Quando eu cheguei aqui em Nova York, no início de 2014, escrevi um post contando um pouco sobre a nossa saga atrás de um apartamento. Não foi fácil – mas é incrível como minha mente bloqueou isso e parece que eu tinha simplesmente tinha me esquecido de todo o estresse que a busca por um apartamento pode causar. Para quem está lendo e acha que eu estou exagerando, acreditem: encontrar um apartamento em Nova York é uma tarefa árdua, que exige muito tempo, paciência, estratégia e disposição (além de grana!). Até mesmo os agentes imobiliários – conhecidos aqui como brokers – concordam. Sempre que eu encontrava com um deles, o papo era o mesmo: Nova York é uma cidade dura neste quesito.

A esta altura do campeonato, vocês podem estar se perguntando o motivo de tanto drama. Simples: são mais de 8 milhões de pessoas morando numa das cidades mais caras do mundo para se viver. Muita demanda, muita procura – e muita gente querendo fazer um bom negócio – ou seja, encontrar seu apartamento ideal num orçamento limitado. Aliás, isso abre espaço para uma observação importante: se você tem um orçamento ilimitado – ou seja, está nadando, literalmente, nas Obamas verdinhas, provavelmente não precisa se preocupar com isso. Agora, no nosso caso, que queríamos um apartamento de dois quartos, com sala, elevador, laundry room, localizado em Manhattan e que não fosse acima da rua 100th St, dentro de um orçamento limitado, acreditem: a tarefa se torna bem complicada e quase impossível. A seguir, vocês conferem 7 coisas que eu aprendi procurando apartamentos em Nova York.

1. Você vai entrar em forma

Não precisa fazer dieta, nem entrar na academia. Procurar apartamento em Nova York vai te ajudar a substituir essas duas tarefas. Primeiro, porque, não sei quanto a vocês, mas eu, quando tenho um problema para resolver, perco a fome. A ansiedade me consome – e eu acabo me alimentando muito mal. Sem contar que, tem dias que você vai marcar um encontro com um corretor diferente a cada hora – o que te deixa com quase zero tempo para sentar e comer alguma coisa. Além disso, não tem muito glamour não viu? É tudo na base do anda pra lá, anda pra cá, corre pra lá, corre pra cá. Teve um dia que andei da 96 até a 59. Não conheci um broker fora de forma. Ah, e vão existir alguns momentos em que você vai ter que literalmente correr: para não perder o trem, para não deixar ninguém te esperando – tudo isso porque você se acha o fodão que pode dar conta de 2435363 visitas em uma tarde – quando não é bem assim.

2. Você vai aprender a baixar suas expectativas

Quando a gente começou a nossa busca por apartamento, nossos requisitos eram vários: lavanderia no prédio, elevador, dois quartos, sala de estar, iluminação, localização – e sem broker fee (a comissão de 15% em cima do valor anual de aluguel que você paga para o broker!). À medida que a gente foi encontrando com os brokers e vendo as opções disponíveis – e ouvindo dos brokers que o que a gente queria seria difícil de encontrar – a gente foi baixando as expectativas. Ao final, já não estava mais priorizando elevador – contanto que não tivesse que subir mais de um andar de escada – e nem lavanderia (afinal, há lavanderias em cada esquina e eu também poderia comprar minha própria máquina de lavar). Afinal, this is New York.

3. Você vai aprender que quando algo é muito bom pra ser verdade – é porque provavelmente é muito bom pra ser verdade

No primeiro dia da nossa busca por apartamentos – ou seja, uma sorte danada! – nós visitamos um apartamento maravilhoso. Enorme, dava até pra correr dentro – sem mentira, quem conhece os apartamentos em Nova York sabe do que estou falando, espaço é artigo de luxo aqui. Tinha dois quartos, uma sala enorme, cozinha maravilhosa, um milhão de closets, elevador, lavanderia e até segurança! Tudo isso por um valor menor do que o que pagamos atualmente no nosso apartamento e sem a tal broker fee. Eu fiquei encantada. Falei para o Thiago: “precisamos preencher a papelada, não vamos conseguir nada melhor por esse preço”. Já imaginei minha vida lá – porque, a essa altura do campeonato, eu ainda criava expectativas e sonhava alto – mas a cara do Thiago dizia: tem algo errado aqui. Saímos de lá para tomar um café, mandei o vídeo pras amigas e Thiago pesquisou sobre o prédio na internet. Achamos várias avaliações sobre o lugar – todas péssimas. Os ex-moradores eram enfáticos: não alugue apartamento aqui. Apesar de ninguém negar que a estrutura era boa, aparentemente o local não era o mais seguro: rolou assassinato e roubo, havia relatos de que as pessoas fumavam, usavam drogas e faziam xixi nas áreas comuns, que a administração era fraca e que a segurança não servia pra nada. Ou seja: como alugar um apartamento sabendo destes fatos?

4. Você vai buscar força de vontade onde não tem

“Sou brasileira e não desisto nunca” virou o meu mantra na busca pelos apartamentos. Ouvir brokers me dizendo que aumentar o meu budget ou subir mais ruas tornaria meu processo mais fácil não me convencia. No fundo, eu sabia que a tarefa não era fácil, mas eu olhava pra cara deles e dizia: ok, vou continuar tentando. Em dois anos em Nova York, apareceram duas ótimas oportunidades para gente mudar para apartamentos com todos as nossas exigências – então, por que agora não iria aparecer algo legal? Eu tentava me convencer de que tudo ficaria bem logo, mas, às vezes, confesso, batia o desespero. Por que essa cidade precisa ser tão difícil? Um dia, Thiago resumiu tudo: “amor, sem emoção não tem graça”. E um broker concluiu: “em Nova York, ninguém tem sentimentos”. Isso explica muita coisa, acredite.

5. Você vai aprender todos os truques!

Primeiro mantra: só acredito vendo. É porque é muito normal você abrir sites de busca de apartamento e encontrar fotos maravilhosas. Dificilmente o apartamento será daquele jeito – por isso, você aprende a baixar suas expectativas. Aliás, você entra em contato com um broker para ver um apartamento e ele vai te mostrar mais uns 4 – e talvez você nem visite aquele pelo qual entrou em contato. Outra coisa: fotos com lente fish eye, fotos esticadas, fotos de detalhes que não importam só escondem que o apartamento é muito pequeno. Você também vai descobrir que filtrar por 2 quartos nem sempre significa que os resultados da busca são de apartamentos de 2 quartos. Existem os que eu chamo de “fake 2 bedrooms”, porque eles contam com dois quartos, mas não têm sala e também os flex, que na verdade são apartamentos de 1 quarto, grandes, no qual você pode subir uma parede – uma gambiarra cujos custos saem do seu bolso. Não, obrigada.

6. Você vai repensar toda a sua a vida e se questionar mil vezes

Eu devo ter visitado, no mínimo, uns 30 apartamentos durante essa busca. À medida que o tempo foi passando, eu aprendi a segurar os pensamentos e não deixar a imaginação rolar solta. Aquele momento em que a pessoa está abrindo a porta para te mostrar um apartamento costumava causar muita tensão, onde eu imaginava 1 milhão de coisas. Passei a não esperar por nada – ou seria esperar só coisa ruim? Um dia, sentada perto do Central Park esperando um broker para ver um apartamento, comecei a me perguntar se tudo aquilo valia à pena. Será que precisávamos mesmo nos mudar? Será que o fato de ser tão difícil encontrar algo não significa que é hora de desistir? Aliás, como saber a hora de desistir? Pode parecer bobeira, mas esse processo me fez repensar muitas coisas – e acho que, se tivéssemos mantido a busca por mais um tempo, teríamos desistido.

7. Você vai aprender a agir rápido e a confiar nos seus instintos.

Escolher um apartamento, para mim, é muito parecido com o processo de escolha do vestido de noiva. Sério! Você veste vários, gosta de alguns, mas elege um como o favorito. Com apartamentos, é a mesma coisa: aconteceu de eu descartar muitos, gostar de alguns e amar poucos. Quando entrei no apartamento para o qual vamos nos mudar, em dez segundos tive a certeza que era aquele. E, para deixar claro, quando se trata de Nova York, não existe essa de ir pra casa, pensar por uns dias e depois decidir que quer o apartamento. Se você fizer isso, provavelmente ele não estará mais disponível no mercado. Isso porque aqui funciona assim: first come, first served. Quem chegar primeiro leva. Eu vi o apartamento às 16h30 e às 18h o Thiago já estava no escritório preenchendo a papelada. Você tem que saber exatamente o que quer para poder tomar decisões rápidas – fiz questão de dar entrada na papelada no mesmo dia pois o broker me informou que outra visita já estava agendada para aquele apartamento no mesmo dia, às 19h.

Gostaram do relato? Vou preparar outro post com um guia de tudo que você precisa saber antes de começar sua busca por apartamentos em Nova York – mas acho que, por este post, já deu pra ter uma ideia de que não é um processo fácil, certo?

Quero fazer um adendo sobre o valor do nosso orçamento para esse apartamento: não menciono valores. Não adianta me perguntar quanto custa o aluguel do meu apartamento: este é o tipo de informação que só diz respeito a nós e não me sinto confortável divulgando isso. E valor de apartamento depende de muita coisa: estrutura do prédio, número de quartos e localização. Uma rápida pesquisa no Google vai te dar algumas respostas. Mas tenha em mente: não é barato!