This is New York, baby! A verdadeira rotina no metrô

Não há jeito melhor de conhecer uma cidade como Nova York sem se aventurar no metrô. Acredite em mim: o Metrocard é muito mais do que um passe para se locomover na cidade. Não vou nem entrar no mérito da eficácia do transporte aqui – dá pra chegar em todos os lugares só usando metrô e ônibus. Mas além de você conseguir programar sua viagem de boa usando o querido subway, o tal cartãozinho amarelo é também um passe para um mundo diferente, onde você realmente vivencia a alma da cidade e a rotina das pessoas que moram aqui e correm pra lá e pra cá. Mesmo que você se sinta confuso com tantas linhas, cores, números e letras, usar o metrô pode ser muito divertido – e até inspirador – se você prestar atenção ao que acontece ao seu redor. Na verdade, pra mim, pegar o metrô é abrir as portas da minha mente e deixar a imaginação fluir. Muitos dos textos que escrevi aqui vieram de pensamentos que surgiram numa viagemzinha de trem.

Na estação aqui perto de casa, das 8 às 9 da manhã, o fluxo de pessoas querendo pegar os trens em direção à Downtown é tão grande que um monte de gente se aglomera pra descer as escadas, enquanto um moço sorridente vai entregando os jornais (grátis) e falando animado: “It’s not because it’s Monday that you need to be mad! Give me a smile! Have a fantastic morning!” Não é difícil entender o porquê de ele ficar insistindo nos sorrisos. Todo mundo está tão focado em chegar a tempo no trabalho ou em casa ou onde quer que seja que a única preocupação se torna andar rápido e desviar de tudo que atrapalhe seu caminho.

E é justamente no metrô que a gente enxerga esse espírito novaiorquino de “get out the way”. De repente, a estação se torna palco de uma competição olímpica onde você se equilibra para descer ou subir as escadas mais depressa – alguns são corajosos e sobem de dois em dois – sem contar a verdadeira maratona para pegar o trem que está prestes a sair. Não importa se daqui a 2 minutos chega outro. As pessoas correm, tropeçam, caem, forçam a porta e se espremem como sardinhas enlatadas. Vagão lotado não é problema! É como coração de mãe: sempre cabe mais um. Há! E você aí pensando que sabia tudo sobre viver perigosamente…

Ainda, não tem como falar de metrô sem mencionar a típica indiferença estampada na cara dos novaiorquinos – e que acaba contagiando todo mundo que mora aqui, hehe. Justamente por isso que o metrô virou lugar de reflexão pra mim, porque, mesmo num vagão lotadérrimo não se escuta um “pio” – apenas o zunido da música vindo do fone de ouvido de alguém. É incrível como cada um se mantém firme na vibe de individualidade, mergulhando no seu livro, jornal ou tablet. Deve ser porque todo mundo aprendeu a aproveitar o tempo fazendo algo que dá prazer ou, simplesmente, colocar o sono em dia (afinal, nessa vida em New York a gente passa um bom tempo em metrô ou ônibus).

Esses momentos onde o silêncio reina são interrompidos apenas pelos avisos de chegada em estação ou lembretes de moral e bons costumes (do tipo “denuncie abuso sexual” ou “mantenha seus pertences com você” ou até “tape o nariz ao espirrar”). Ah, e claro, ainda há as interrupções clássicas dos pedintes, sempre com histórias tristes – mas que comovem pouco a ponto de fazer alguns tirarem trocados do bolso. Sem julgamento, ok, mas nunca se sabe se as histórias são ou não verdadeiras – e a voz da moral e bons costumes no metrô sempre avisa que é tal prática é proibida.

Com o tempo, você aprende a ser esperto e já sabe identificar algumas leis não escritas. Tipo quando um metrô lotado na hora do pico chega, com um vagão super vazio. Os marinheiros de primeira viagem vão correr pra pegar um lugarzinho sentado, mas eu prefiro é ficar em pé mesmo. Vagão vazio num metrô lotado pode siginificar duas coisas: ou o ar condicionado está desligado ou alguém cheirando muito mal está lá dentro. Aliás, falando em odores, não dá pra deixar de lembrar do povo que não conseguiu fazer sua refeição direito e leva a quentinha de comida tailandesa pra dentro do vagão. O cheiro infesta de um jeito que vou te contar. A regra é clara: só coma snacks no metrô.

Tem também aquela turma que não está nem aí pro silêncio e, sabe-se lá o motivo, começa a falar sozinho, rir sem parar ou então os revoltadinhos, que gritam, reclamam – quando não pregam a palavra de Deus. Aliás, as estações de metrô estão cheias de gente anunciando a volta de Jesus ou pedindo o impeachment do Obama com foto dele de bigodinho de Hitler. E também tem gente que realmente topa tudo por dinheiro, como os mais safadjenhos, que dançam só de cueca animal print. Ou os que se penduram nas barras e dão um show de ginástica artística dentro do vagão. Mas se é pra falar de ganhar dinheiro, não tem como não citar os músicos. Ah, os músicos. Aqueles que te fazem parar na correria sem fim pra ouvir aquela canção bacana – e era tudo que você precisava para lembrar de como New York é uma cidade incrível.

E se o fim de semana chegou, pouco importa se o metrô é sujo ou tem ratos. O que importa é que ele funciona! Há! A alegria contagia, todo mundo fica mais falante e conversador – nem parece o povo introvertido e carrancudo da segunda de manhã. Afinal, é sexta (ou sábado) e as pessoas partem pros seus destinos com a felicidade estampada no rosto e as garrafinhas de suco de laranja – devidamente complementadas com vodka (afinal, não se pode beber na rua, mas pra tudo se dá um jeito). This is New York, baby!

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