10 verdades sobre o inverno em Nova York

“Que lindo!” “Que sonho!” “Que inveja!” “Amo frio, amo inverno!” São essas as frases que acompanham as fotos que eu posto do inverno de Nova York. Por mais que eu diga – amigo, você não sabe o que está falando – não adianta: todo mundo parece ficar hipnotizado pelas imagens da cidade toda branquinha. E eu até entendo, porque né, no Brasil neve é algo raríssimo e exclusivo – rola somente em algumas regiões e nem acontece todo inverno. O fato é que neve é legalzinha a primeira vez que você vê, durante 15 minutos, por aí. Depois, enche o saco – realidade! Uma amiga querida que mora em Londres há muito tempo já tinha me avisado antes – mas depois de viver na pele é que a gente começa a concordar. Mas, enfim. Para vocês entenderem um pouco porque a maioria das pessoas que mora aqui não curte o inverno, listo várias verdades que talvez clareiem um pouco a visão sobre essa época. 

1. As temperaturas super baixas – acho que essa é uma das principais diferenças entre o inverno no Brasil e o inverno em NY. Vejam bem, falo com conhecimento de causa: nasci e fui criada no sul de Santa Catarina, um dos estados privilegiados em ter essa estação charmosa, elegante, sofisticada… Todos esses adjetivos são perfeitos para o inverno na região sul do Brasil, mas definitivamente não combinam com o inverno daqui. Enquanto lá em SC os dias geladérrimos eram pontuais, aqui as temperaturas negativas são rotina. Se o termômetro estiver marcando zero ou dois números acima eu já tô feliz. Temperaturas negativas + vento é uma mistura triste. Não há dignidade que aguente. Há dias em que andar na rua é insuportável – você mal consegue respirar e sente que aquela brisa gelada vai arrancar o pouco de pele que fica exposta (no caso, o rosto). 

2. As camadas infinitas de roupas – para ficar protegido do frio em NY é preciso usar muitas camadas de roupas. Blusa térmica, lã, casaco pesado, meia por baixo da calça e mais aquele combo de acessórios (cachecol, protetor de orelha, luvas). No fim do inverno, você já está de saco cheio! É capaz de desistir de ir ao mercado para abastecer a geladeira porque a ideia de vestir milhares de peças para ir até à esquina te dá preguiça.

3. O sistema de aquecimento – ok, isso é um ponto positivo e que diferencia muito o inverno do Brasil com o inverno americano em geral. A questão é que aqui qualquer lugar tem aquecimento. Seja uma loja ou restaurante, seja o supermercado ou a farmácia. Traduzindo: você só passa frio na rua. Beleza. Seria perfeito. Mas, o problema é que para alguns lugares parece valer a regra do 8 ou 80: você congela na rua, mas derrete lá dentro. Ou seja, é bom estar preparado para viver tirando tudo e colocando tudo. Não dá – simplesmente NÃO DÁ – para ficar com o look completo de inverno dentro de um lugar aquecido. Imagine um metrô lotado com aquecimento. Acho que dá pra ter ideia, ne? Muito importante ressaltar que o aquecimento também não é mocinho. Ele resseca a pele, os olhos, o nariz… Nem dá pra pensar em passar um inverno aqui sem umidificação.

4. A neve só é bonita nos parques – é ÓBVIO que eu não sou tão insensível assim: eu amo a paisagem da natureza coberta de neve. Realmente, é lindo – e sempre rende fotos lindas. Mas né, essa é a realidade dos parques cujos gramados não passam pessoas nem carros. A verdade nua e crua nas ruas é de muita neve acumulada, que vai ficando suja e deixa o visual bem feio. Sem contar as poças congeladas que te enganam e fazem você enfiar o pé com tudo. Não posso deixar de mencionar a chance de você levar um banho de neve que virou lama ao esperar para atravessar na faixa. E não esqueça de acrescentar a isso o risco de levar o maior tombão por conta do chão escorregadio.

5. O atraso nos transportes – óbvio que isso depende da intensidade da neve e do frio, mas sim, as temperaturas baixas provocam atrasos nos metrôs, quando não cancelam alguns trechos de linhas específicas. Os ônibus também acabam sendo afetados, já que todo mundo tem que dirigir mais devagar quando as ruas estão cheias de neve. E um detalhe importantíssimo: quem tem viagem marcada já é prejudicado, pois vários vôos são cancelados – e o trem que liga os terminais também para de funcionar em temperaturas extremamente frias.

6. Sol e céu azul não têm mais o mesmo sentido – é claro que um dia ensolarado e limpo faz toda a diferença na sua rotina e afeta – muito – o humor (pelo menos eu vivo assim!). Dias cinzos são um saco. Mas o humor é a única coisa que muda num dia bonito. Lembro que quando ia à escola, no Brasil, costumávamos pedir para a professora fazer a aula “no solzinho”, porque as salas eram congelantes. Esqueça o “solzinho quentinho” no inverno de NY. Em dias gelados, isso pouco influencia a sensação. Se estiver na rua o segredo é: keep moving! Ficar parado vai fazer você sentir suas extremidades congelarem.

7. Os dias são mais curtos – eu amo horário de verão por causa dos dias mais longos. Adoro saber que vou ter a luz do sol até praticamente 8 da noite. É tão bom! Dá uma energia, um gás. Por outro lado, não existe esse privilégio no inverno. Mesmo no Brasil, sei que esse lance também rola. Mas, aqui, há períodos horríveis. Em novembro, por exemplo, o dia começava a se despedir às 16 horas. Pensa! Sem contar que o sol também nasce mais tarde. Ou seja, as horas de luz são drasticamente reduzidas.

8. Esqueça a vida outside – os new yorkers curtem muito as atividades fora de casa – vai ver é por conta do tamanho dos apartamentos, rsrsrs. Fato é que o povo aqui adora andar de bike, de patins, correr, fazer piquenique no parque, levar os cachorros para passear, ler ao ar livre, até mesmo comer nas mesas da rua dos restaurantes. O clima de verão é outro, definitivamente. Tudo isso quase desaparece no inverno – a não ser pelos corajosos que continuam a correr, faça chuva ou faça sol. Ou seja, a gente passa muito tempo trancafiado em algum lugar. Deve ser por isso que eles aproveitam o verão tão intensamente. 

9. Atrações limitadas – quando alguém me fala que está pensando em vir para Nova York e pergunta qual a melhor época eu já digo: evite o inverno! Não só por conta de todos os fatores que mencionei acima, mas também porque as atrações aqui acabam sendo reduzidas. Claro que há muito o que se fazer, mas eu acho que várias atividades são mais agradáveis quando as temperaturas lá fora não estão congelantes. Sem contar os locais que fecham durante o período e acabam ficando fora do roteiro: o parque de Coney Island não funciona, a Governor’s Island não é aberta ao público, o Storm King é fechado… 

10. Mau humor – e como não poderia deixar de ser, tudo isso afeta o humor das pessoas. A gente nota que todo mundo fica menos falante e menos sorridente.